"Pequena morte (Petite Mort), chamam em França, a culminação do abraço que, ao quebrar-nos faz por juntar-nos, perdendo-nos faz por nos encontrar e acabando conosco nos principia. Pequena morte, dizem; mas grande, muito grande haverá de ser, se ao nos matar nos nasce." Eduardo Galeano
quinta-feira, 25 de julho de 2013
LE BAISER
"Minha pátria, minha língua", dizia Pessoa. Várias línguas, inúmeros meios de dizer "eu, tu, ele, nós etc.". O pensamento tem sua topografia. Sentir é poder explorá-la. Tem ciência mais bonita do que a geografia? Talvez, nos calhamaços da escola, tal beleza não se encontre. Mas o tempo é feito de terra, areia, rocha, vento, mar. A língua tem isso. O paladar, o sabor da palavra que sai da boca, se afunila no ouvido e sopra no cérebro. Isso é relevo. A linguagem é selva; o verso, uma aventura! Poder falar é embarcar neste oceano. Uma das razões de ser poliglota é a ter mais possibilidades de meter o nariz onde não se é chamado. Um motivo para escrever é tentar seduzir aquilo que já te seduziu! São línguas e línguas!
segunda-feira, 22 de julho de 2013
QUE SE DANE!
Toda vez que olho aquele mendigo sinto algo
diferente. É seu corpo na chuva, no sol, na noite. Subitamente, a piedade me
assalta... Não é nem o mendigo, nem o tempo que mudam. É minha cara. Meu rosto.
Meus olhos o tocam e sentem uma espécie de pavor, reverberado em cada
músculo da face. Quando digo “coitado” sem palavras, mas com o pescoço maneando
a cabeça, faço um gesto de recusa. Jogo pros céus a responsabilidade social por
aquele indivíduo. O seu destino pertence à puta que o pariu. Mas, agora, por que,
ao pedir que lhe salvem, olho discretamente para cima, e não para ele?E se ele
perceber o meu olhar fazendo uma comparação inconsciente entre ele e eu? É aqui
que retomo a marcha que fazia. Pra onde, mesmo? Na direção daquele homem
deitado no chão. Mais acima, dobro a direita, esquerda, reto, direita
novamente. Vamos lá? Passo pelo pedinte. Esquivo-me do seu pedido com um gentil
“não tenho”. Algo me impede de ir lá e sacudi-lo. Aquele ser é um inútil que
deve ter uma função. Qual? Que vá procurar! Não é sequer um mendigo, digamos,
profissional; se o fosse, teria a perna gangrenada e, aqui, minha piedade
encontraria o drama que precisa. Não se pode fazer muita coisa com uma perna
podre, não é? Cortá-la seria prudente, mas não sou um sujeito gabaritado para
fazê-lo. Portanto, pra quê sentir tanta pena? Pra quê? Por quê? Se não tivesse
tanta piedade, o mandaria trabalhar. Vai trabalhar vagabundo! Quem sabe, dar-lhe-ia um trabalho, ou uma
roupa para ir procurar trabalho. Se não tivesse tanta piedade, talvez o tocasse,
ignorando esse cheiro de mijo insuportável. Todavia, a pena que tenho dele é
baseada na pena que ele carrega. Esta relação abstrato-concreta não pode se
quebrar, caso contrário, desmancharia a coerência da contradição. Se tivesse piedade de mim, não teria piedade
alguma dele. Se não tivesse piedade de nada, mudaria o mundo. E mudar o mundo é uma coisa extremamente difícil, estou certo? Sejamos realistas.
segunda-feira, 15 de julho de 2013
O GRITO - Apresentação de Carroça com Nêgo no Grita
Um événement: foi isso que aconteceu no
Anjo da Guarda domingo, 14 de Julho - data interessante para refletir sobre
revolução, liberdade, fraternidade e igualdade. Existia ali um quê de revolução, ou de
reboliço. Duas companhias de teatro se apresentando na periferia de São Luís com
os espetáculos A Carroça é Nossa (Xama
Teatro) e Nego Cosme (Cena Aberta).
Grupos parceiros da Petite Mort.
A empreitada do
Grupo Grita (que cedeu o espaço e os técnicos) nos possibilita refletir
sobre as alternativas para fruição da produção teatral no Maranhão - terra em
que a medida peça por espectador quadrado
ainda causa um pouco de contradição.
O mecanismo pecinha + divulgação = espero, Deus, que
eles venham, já cai um pouco por terra. Se quisermos atingir um público que
não vê teatro como uma necessidade, como um bem, ou seja, se não podemos, no
Maranhão, dizer “Bicho, para onde vamos
hoje? Cinema? Bar? Teatro?”, a dinâmica precisa mudar. A boa solução é juntar os grupos e fazer
eventos dessa natureza. Vários espetáculos num só dia. Três dias de
espetáculos. Uma oficina ali, outra lá, e toma mais espetáculo!
A tática:
ganhar pelo cansaço. A palavra é forte, sei... Mas vivemos numa época em que a
constância dita as regras. Novelas, geralmente, não são boas, mas estão lá,
todo santo dia. É uma “malhação” que se faz no espírito. Tratando-se de esporte,
portanto, o que vale? Frequência e explosão - o happening, que traduzido no
inglês fica mais ou menos assim: “um tipo de exposição que gera um certo bafafá”.
Essa é a dinâmica do mundo midiático que nós temos que assimilar. Muitas pessoas só conseguem serem ouvidas quando se unem para falar a mesma frase e por muito tempo - e bem alto! Vimos isso acontecer no Brasil, quando o “gigante” acordou, não é, gigante? Ei, gigante! Ei! Acorda! Ah, desculpe, tive a impressão que vossa senhoria estava cochilando...
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