Convém-se
que a Tragédia é a derrota do Homem diante da vontade divina. Não se luta
contra o que foi preestabelecido pelos “Céus”.
Por mais cruel que o destino possa parecer, o Homem é regido por
estas convenções de ordem divina e/ou social e deve respeitá-las. O ato que
vai de encontro àquilo que lhe foi conferido pelos deuses ou/e pela sociedade culminará
em um terrível fim. Seu caráter transgressor, que parecia sua maior qualidade,
será o responsável por sua queda. Mesmo arrependido, continuará caindo até se
chocar contra um sólido fundo trágico...
Nós, do lado
de cá, sentindo terror e piedade, nos purgamos daquele defeito de caráter que
parecia tentador em um primeiro momento, pois deu ao Herói toda glória que
possuía; mas, depois, tornou-se indigesto, daí a purgação. Essa é a catarse,
grosseiramente resumida e efetivamente útil quando se trata de adaptar o
sujeito às convenções:
“Aristóteles formulou um poderosíssimo sistema purgatório, cuja finalidade é eliminar tudo que não seja comumente aceito, legalmente aceito, inclusive a revolução, antes que aconteça. O seu Sistema aparece dissimulado na TV, no cine, nos circos e nos teatros. Mas a sua essência não se modifica. Trata-se de frear o indivíduo, de adaptá-lo ao que pré-existe.” (BOAL, 1931).
Em Velhos Caem do Céu como Canivetes, da Pequena Cia de Teatro, temos uma montagem que vai de encontro a todo esse sistema coercitivo que é denunciado por Augusto Boal em Teatro do Oprimido. A Tragédia é posta ao avesso. O que se vemos é um drama com ares trágicos, ou, uma “antitragédia”. Já explico...