quinta-feira, 9 de maio de 2013

JOGO ABERTO

Caderno de Direção # 11
          
Nuno e Luís em processo de escrita

          O texto dramático é corpo. Faz parte do jogo. Escrever, antes de tudo, é criar uma lógica entre os signos, dos quais a palavra é apenas um entre muitos. Daí existir a dramaturgia do ator, a dramaturgia da luz, a dramaturgia da música etc. 

         Nosso problema: o texto baseado no jogo de réplica sobre réplica não nos serve completamente. O personagem principal vai perdendo a memória e ficando débil. Exploramos os quiproquós e a comédia dos erros. Mas estes, ao longo de toda uma peça, podem gerar uma tensão por parte das pessoas que cuidam dos doentes e dos especialistas. Este drama não é apenas nosso, é um drama alheio também: precisamos tratá-lo com cuidado para não cair em polêmicas desnecessárias. 

          Nossa solução: à medida que o personagem principal perde a consciência e a memória, o texto perde as amarras das réplicas e busca novas maneiras de dialogar. Primeira e terceira pessoa se entrecruzam. Discursos se sobrepõem formando não mais o conflito, mas a paisagem da situação dramática. O texto se acaba, para dar origem a um diálogo de sons com dois personagens querendo lembrar uma música esquecida, a saber, “Dona Derrisão”. 

          O texto está em aberto. As possibilidades, antes limitadas em função dos sintomas da doença, agora são inúmeras. O objetivo atual é aprimorar nosso método baseado em tensões e ritmos para compor/escrever as cenas que ainda faltam, utilizando os depoimentos, textos científicos, memória do ator, reportagens, criando através de improvisos...


Tabuleiro dos Níveis de Expressão baseado em quatro situações: tensão , contração, expansão e dispersão. Em breve postaremos mais sobre isso.
           A vantagem desse trabalho de parto invertido é que o texto, a cena, as marcas e a luz, às vezes, surgem de uma só vez: acasos vestidos de coincidências. Os resultados hão de aparecer, é certo. Até lá, ensaios e mais ensaios.

Um comentário:

  1. Olá Petit Mort.Gostaria que me tirassem uma dúvida.
    Eu faço teatro não profissionalmente como vocês, mas tenho um apreço muito grande pelo teatro e sinto que isso é realmente o que eu quero fazer já que não me vejo em outra carreira, mas ultimamente tenho percebido que estou muito mecânica na minha atuação e sinceramente isso não é uma coisa boa, queria saber se vocês podem me dar umas dicas de como sair dessa fase. Obrigada! Ah e é claro eu amo o trabalho de vocês, quando vão haver peças novas?

    ResponderExcluir