segunda-feira, 26 de maio de 2014

O Teatro Político

*     Escrito durante o regime militar, O Rato no Muro faz uma alusão à liberdade por meio da rotina de um convento. As freiras enclausuradas, no local, mal podem se aproximar do alto do muro que as separa do mundo exterior. Em certa ocasião, elas avistam um rato no alto da parede — o animal pode ver tudo que lhes é privado.
*     Temática: política, censura e ditadura!
*     O Rato No Muro apresenta questões ligadas à falta de liberdade do ser.
*     Madre Superiora: figura representativa do poder religioso, e, por conseguinte, totalitário.
*     A presença de um rato no muro, não só abala a rotina monótona do convento, mas fomenta uma série de ações que culminam, por meio da palavra, em um processo de enfrentamento contra o sistema opressor.
*     Irmãs I e H: irmãs de sangue ligadas por uma corda metaforizando um cordão umbilical.
*     As tentativas de transpor o muro e sair do contexto de repressão por parte da irmã H fazem com que ela seja morta no final pelas outras freiras do convento, inclusive por sua própria irmã. 
*     O suspense psicológico O Rato no Muro, de Hilda Hilst, faz uma poética metáfora sobre opressão e liberdade ao mostrar a cíclica rotina de uma casa religiosa.
*     O que as separa do mundo exterior é um muro altíssimo, feito de pedras e sem portas.
*     Diariamente, as irmãs seguem uma mesma rotina, onde rezam e confessam suas culpas diante da madre superiora. 
*      Elas não conseguem fugir ao coletivo e se comportam como um coral, massificadas pelo confinamento.
*     A rotina repressora impede que se aproximem do muro, oprimindo qualquer possibilidade de ação, movimento e liberdade.
*     O sumiço de uma das irmãs, um gato sacrificado e a simples visão de um rato sobre o muro são acontecimentos notáveis. 
*     O rato inspira, uma vez que pode subir e ver o que a elas é negado ver. Diante disso, a mais questionadora das irmãs almeja conseguir o apoio das outras para ultrapassar o muro que as aprisiona. Seu desejo se torna ainda maior ao constatar a passagem de seres, que transitam livremente e, assim como o rato, conseguem viver entre os dois mundos.
*     Em O Rato no Muro é evidente a alusão feita ao momento político brasileiro, afinal as personagens da peça sofrem as consequências de um sistema autoritário, dominado pela tortura e pelo medo. A partir de uma situação limite, Hilda Hilst aborda a existência humana e seu isolamento diante do medo e da culpa. Apesar da lucidez política, O Rato no Muro se afasta da ideologia, privilegiando um questionamento universal, composto por poesias e pela construção de sons e imagens.



·        Referência do anjo: Anjo que perdeu a juventude e a beleza, atribui seu idealismo? Suas asas são incapazes de levantar e trazer para o céu, o anjo caído já está invadido pela banalidade, a feiura, a mediocridade.

        Apontamentos, anotações e análise sobre a leitura (certas impressões)

ü  Análise das metáforas presentes na descrição do cenário (a simbologia, poesia das imagens):
·        Interior de uma capela: espaço destinado a cultos religiosos; fiéis presos a ações limitadas a um padrão de gestos ligados à tradição de um ritual litúrgico; vigilância de um poder espiritual supremo sobre suas ações mais humanas (algo feito fora dessa restrição); culto e adoração a um ser superior; penitência pelos seus pecados; respeito ao sagrado por medo da danação eterna; normas, regimes, regras, obediência, cabeça baixa, submissão, silêncio… 
·        Paredes brancas com algumas manchas negras, como as de um incêndio: Branco com negro: representação do bem e do mal; manchas negras sobre parede branca: a contaminação do pecado sobre a pureza; a mácula profanando o imaculado; preto e branco: cores do hábito das irmãs; hábito: farda; farda: ausência de identidade e liberdade; farda: militares; manchas negras, como as de um incêndio: máculas das trevas, provenientes das chamas do caldeirão de breu (o fogo infernal, perturbação torturante).
·        Ao fundo, uma cruz enorme, negra: Por trás de tudo vem o grande sacrifício, que, no final das contas, provém do mal.
·        No chão, uma cruz luminosa onde as mulheres se movem: Cruz: caminho a ser seguido; sacrifício para a remição dos pecados; andar em espaço delimitado, demarcado, sem ultrapassar os limites, caminho determinado por autoridade, sem liberdade, andar na linha, no caminho da remição; o caminho da salvação e da verdadeira liberdade é a cruz, a penitência; é se torturar para não ser torturado. Demarcado no chão: Deixar claro onde se pode pôr os pés, e onde se é proibido pisar; em quais caminhos posso trilhar; quais caminhos são proibidos; (caminho a ser trilhado: caminho de obediência e aceitação da ditadura/caminho proibido: o caminho da revolta, da revelia, da busca pela liberdade e pelos direitos) Luminosa: Representação do que é divino, do que tem poder, do que vem do céu, do que tem luz, do que é brilhante, genial (como se veem os próprios generais da ditadura).
·        Uma grande escultura representando a figura de um anjo: (anjo que perdeu a juventude e a beleza, atribui seu idealismo? Suas asas são incapazes de levantar e trazer para o céu, o anjo caído já está invadido pela banalidade, a feiura, a mediocridade.) — O bem corrompido pelo mal (anjo decaído — representação do demônio).
·        Cenário (dois planos): Interior da capela/Uma cerca a alguns metros de distância do muro que nunca é visto.
Interior da capela: Lugar permitido de se estar, representa o lugar que exerce certo domínio sobre as irmãs.
— Uma cerca: Limite de onde se pode ir. Representa o proibido ultrapassar
— Muro: Lugar proibido de se chegar perto, por isso nunca se vê; pois apenas pode ser imaginado pelos anseios de cada irmã, dentro delas tudo é hermético, o âmago de cada uma é o único local livre da intromissão da madre superiora. O muro é um elemento que representa a repressão, pois é ele que extirpa a visão das irmãs em relação à imagem do mundo externo. Ele priva cada uma de enxergar o mundo lá fora; assim, fazendo delas uma espécie de indivíduo alienado! Porém, ele pode representar também a figura da verdadeira libertação, pois a existência dele é a prova de que existe uma vida lá fora, livre de restrições; uma vida que dá, a cada um, o direito à liberdade de “ir e vir “e a liberdade de escolha (a liberdade física e a liberdade de ideias e pensamentos).   
·        Na capela, alguns castiçais, um banco e uma pequena janela:
        — Castiçais: A luz interna entre as sombras (poder ver na escuridão).
        — Banco:  Apoio para o corpo (traz repouso ao corpo exaurido de penitência e castigo).
        — Pequena janela:  Pequena vista para o lado de fora da clausura (a luz externa que invade as sombras; o ar que entra, e as mantém vivas na esperança).
·        Freiras em círculos, ajoelhadas; chicote de três cordas ao lado de cada uma:
Freiras em círculos: Domínio de outrem sobre suas ações; extirpação da liberdade de se expressar; obrigação de estar em posição formal segundo às normas e preceitos de uma hierarquia.
Ajoelhadas: Posição de submissão e inferioridade. Postura de quem quer ser perdoado por algo de errado que fez; alguém que implora, suplica por misericórdia; indigno.
— Chicote de três cordas ao lado de cada uma: Representação de penitência, castigo, punição, flagelo, tortura, para a remição dos pecados; para ser digno da misericórdia divina.

·        Superiora de pé, afastada das outras:

— Superiora: Representação de superioridade, de altivez (digno ≠ e/ou = soberbo); quem dita as normas e supervisiona as demais, em nome de algo ainda mais superior; ocupa um cargo privilegiado perante as outras; manda e desmanda; é a representação do domínio de um regime totalitário, figura autoritária de uma regência ditatorial. A imagem e semelhança dos generais que assombraram o país no período da ditadura militar.  
— De pé: Posto acima de quem se obrigou a ajoelhar, valor moral acima de qualquer suspeita, posto hierárquico acima dos subordinados.

— Afastada das outras: A distância que se mantém do pecado; a necessidade que há em não se misturar o casto com o impuro. Manter a distância dos subordinados para que fique bem claro o seu posto diante da posição inferior que as outras ocupam em tal hierarquia. Evitar a aproximação de modo que não haja intimidade; é desta forma que a mesma preserva seu direito de exercer tal domínio sobre as outras por meio da intimidação. (Não há aí uma relação de respeito, mas de medo).


Nuno Lilah Lisboa.

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