Escrito
durante o regime militar, O Rato no Muro
faz uma alusão à liberdade por meio da rotina de um convento. As freiras
enclausuradas, no local, mal podem se aproximar do alto do muro que as separa
do mundo exterior. Em certa ocasião, elas avistam um rato no alto da parede — o
animal pode ver tudo que lhes é privado.
Temática:
política, censura e ditadura!
O Rato No Muro apresenta questões
ligadas à falta de liberdade do ser.
Madre
Superiora: figura representativa do poder religioso, e, por conseguinte,
totalitário.
A presença de um rato
no muro, não só abala a rotina monótona do convento, mas fomenta uma série de
ações que culminam, por meio da palavra, em um processo de enfrentamento contra
o sistema opressor.
Irmãs I e H: irmãs de sangue ligadas
por uma corda metaforizando um cordão umbilical.
As tentativas de
transpor o muro e sair do contexto de repressão por parte da irmã H fazem com
que ela seja morta no final pelas outras freiras do convento, inclusive por sua
própria irmã.
O suspense psicológico O Rato no Muro, de Hilda Hilst, faz uma poética metáfora sobre
opressão e liberdade ao mostrar a cíclica rotina de uma casa religiosa.
O que as separa do mundo exterior é
um muro altíssimo, feito de pedras e sem portas.
Diariamente, as irmãs seguem uma
mesma rotina, onde rezam e confessam suas culpas diante da madre
superiora.
Elas não conseguem fugir ao coletivo e
se comportam como um coral, massificadas pelo confinamento.
A rotina repressora impede que se
aproximem do muro, oprimindo qualquer possibilidade de ação, movimento e
liberdade.
O sumiço de uma das irmãs, um gato
sacrificado e a simples visão de um rato sobre o muro são acontecimentos
notáveis.
O rato inspira, uma vez que pode subir e
ver o que a elas é negado ver. Diante disso, a mais questionadora das
irmãs almeja conseguir o apoio das outras para ultrapassar o muro que as
aprisiona. Seu desejo se torna ainda maior ao constatar a passagem de
seres, que transitam livremente e, assim como o rato, conseguem viver
entre os dois mundos.
Em O
Rato no Muro é evidente a alusão feita ao momento político brasileiro,
afinal as personagens da peça sofrem as consequências de um sistema
autoritário, dominado pela tortura e pelo medo. A partir de uma situação
limite, Hilda Hilst aborda a existência humana e seu isolamento diante do
medo e da culpa. Apesar da lucidez política, O Rato no Muro se afasta da ideologia, privilegiando um
questionamento universal, composto por poesias e pela construção de sons e
imagens.
·
Referência
do anjo: Anjo que perdeu a juventude e a beleza, atribui seu idealismo?
Suas asas são incapazes de levantar e trazer para o céu, o anjo caído já está invadido
pela banalidade, a feiura, a mediocridade.
Apontamentos, anotações e análise sobre a
leitura (certas impressões)
ü
Análise
das metáforas presentes na descrição do cenário (a simbologia, poesia das
imagens):
·
Interior
de uma capela: espaço destinado a cultos religiosos; fiéis presos a ações limitadas
a um padrão de gestos ligados à tradição de um ritual litúrgico; vigilância de
um poder espiritual supremo sobre suas ações mais humanas (algo feito fora
dessa restrição); culto e adoração a um ser superior; penitência pelos seus
pecados; respeito ao sagrado por medo da danação eterna; normas, regimes,
regras, obediência, cabeça baixa, submissão, silêncio…
·
Paredes
brancas com algumas manchas negras, como as de um incêndio: Branco com negro: representação
do bem e do mal; manchas negras sobre
parede branca: a contaminação do pecado sobre a pureza; a mácula
profanando o imaculado; preto e
branco: cores do hábito das irmãs; hábito:
farda; farda: ausência de
identidade e liberdade; farda:
militares; manchas negras, como as de
um incêndio: máculas das trevas, provenientes das chamas do
caldeirão de breu (o fogo infernal, perturbação torturante).
·
Ao fundo,
uma cruz enorme, negra: Por trás de tudo vem o grande sacrifício, que, no
final das contas, provém do mal.
·
No chão,
uma cruz luminosa onde as mulheres se movem: Cruz: caminho a ser seguido; sacrifício para a remição dos
pecados; andar em espaço delimitado, demarcado, sem ultrapassar os limites,
caminho determinado por autoridade, sem liberdade, andar na linha, no caminho
da remição; o caminho da salvação e da verdadeira liberdade é a cruz, a
penitência; é se torturar para não ser torturado. Demarcado no chão: Deixar claro onde se pode pôr os pés, e
onde se é proibido pisar; em quais caminhos posso trilhar; quais caminhos são
proibidos; (caminho a ser trilhado: caminho de obediência e aceitação da
ditadura/caminho proibido: o caminho da revolta, da revelia, da busca pela
liberdade e pelos direitos) Luminosa: Representação
do que é divino, do que tem poder, do que vem do céu, do que tem luz, do que é
brilhante, genial (como se veem os próprios generais da ditadura).
·
Uma
grande escultura representando a figura de um anjo: (anjo que perdeu a
juventude e a beleza, atribui seu idealismo? Suas asas são incapazes de
levantar e trazer para o céu, o anjo caído já está invadido pela banalidade, a
feiura, a mediocridade.) — O bem corrompido pelo mal (anjo decaído —
representação do demônio).
·
Cenário
(dois planos): Interior da capela/Uma cerca a alguns metros de distância do
muro que nunca é visto.
— Interior
da capela: Lugar permitido de se estar, representa o lugar que exerce certo
domínio sobre as irmãs.
— Uma cerca: Limite de onde se pode ir.
Representa o proibido ultrapassar.
— Muro: Lugar proibido de se chegar
perto, por isso nunca se vê; pois apenas pode ser imaginado pelos anseios de
cada irmã, dentro delas tudo é hermético, o âmago de cada uma é o único local
livre da intromissão da madre superiora. O muro é um elemento que representa a
repressão, pois é ele que extirpa a visão das irmãs em relação à imagem do
mundo externo. Ele priva cada uma de enxergar o mundo lá fora; assim, fazendo
delas uma espécie de indivíduo alienado! Porém, ele pode representar também a
figura da verdadeira libertação, pois a existência dele é a prova de que existe
uma vida lá fora, livre de restrições; uma vida que dá, a cada um, o direito à
liberdade de “ir e vir “e a liberdade
de escolha (a liberdade física e a liberdade de ideias e pensamentos).
·
Na
capela, alguns castiçais, um banco e uma pequena janela:
— Castiçais: A luz interna entre as
sombras (poder ver na escuridão).
— Banco: Apoio para o corpo
(traz repouso ao corpo exaurido de penitência e castigo).
— Pequena janela: Pequena
vista para o lado de fora da clausura (a luz externa que invade as sombras; o
ar que entra, e as mantém vivas na esperança).
·
Freiras
em círculos, ajoelhadas; chicote de três cordas ao lado de cada uma:
— Freiras
em círculos: Domínio de outrem sobre suas ações; extirpação da liberdade de
se expressar; obrigação de estar em posição formal segundo às normas e
preceitos de uma hierarquia.
— Ajoelhadas:
Posição de submissão e inferioridade. Postura de quem quer ser perdoado por
algo de errado que fez; alguém que implora, suplica por misericórdia; indigno.
— Chicote de
três cordas ao lado de cada uma: Representação de penitência, castigo,
punição, flagelo, tortura, para a remição dos pecados; para ser digno da
misericórdia divina.
·
Superiora
de pé, afastada das outras:
— Superiora: Representação
de superioridade, de altivez (digno ≠ e/ou = soberbo); quem dita as normas
e supervisiona as demais, em nome de algo ainda mais superior; ocupa um cargo
privilegiado perante as outras; manda e desmanda; é a representação do domínio
de um regime totalitário, figura autoritária de uma regência ditatorial. A
imagem e semelhança dos generais que assombraram o país no período da ditadura
militar.
— De pé: Posto acima de quem se obrigou
a ajoelhar, valor moral acima de qualquer suspeita, posto hierárquico acima dos
subordinados.
— Afastada das outras: A distância que
se mantém do pecado; a necessidade que há em não se misturar o casto com o
impuro. Manter a distância dos subordinados para que fique bem claro o seu
posto diante da posição inferior que as outras ocupam em tal hierarquia. Evitar
a aproximação de modo que não haja intimidade; é desta forma que a mesma
preserva seu direito de exercer tal domínio sobre as outras por meio da
intimidação. (Não há aí uma relação de respeito, mas de medo).
Nuno Lilah Lisboa.
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