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Referência
do anjo: Anjo que perdeu a juventude e a beleza, atribui seu idealismo?
Suas asas são incapazes de levantar e trazer para o céu, o anjo caído já está invadido
pela banalidade, a feiura, a mediocridade.
Apontamentos, anotações e análise sobre a
leitura (certas impressões)
ü
Análise
das metáforas presentes na descrição do cenário (a simbologia, poesia das
imagens):
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Interior
de uma capela: espaço destinado a cultos religiosos; fiéis presos a ações limitadas
a um padrão de gestos ligados à tradição de um ritual litúrgico; vigilância de
um poder espiritual supremo sobre suas ações mais humanas (algo feito fora
dessa restrição); culto e adoração a um ser superior; penitência pelos seus
pecados; respeito ao sagrado por medo da danação eterna; normas, regimes,
regras, obediência, cabeça baixa, submissão, silêncio…
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Paredes
brancas com algumas manchas negras, como as de um incêndio: Branco com negro: representação
do bem e do mal; manchas negras sobre
parede branca: a contaminação do pecado sobre a pureza; a mácula
profanando o imaculado; preto e
branco: cores do hábito das irmãs; hábito:
farda; farda: ausência de
identidade e liberdade; farda:
militares; manchas negras, como as de
um incêndio: máculas das trevas, provenientes das chamas do
caldeirão de breu (o fogo infernal, perturbação torturante).
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Ao fundo,
uma cruz enorme, negra: Por trás de tudo vem o grande sacrifício, que, no
final das contas, provém do mal.
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No chão,
uma cruz luminosa onde as mulheres se movem: Cruz: caminho a ser seguido; sacrifício para a remição dos
pecados; andar em espaço delimitado, demarcado, sem ultrapassar os limites,
caminho determinado por autoridade, sem liberdade, andar na linha, no caminho
da remição; o caminho da salvação e da verdadeira liberdade é a cruz, a
penitência; é se torturar para não ser torturado. Demarcado no chão: Deixar claro onde se pode pôr os pés, e
onde se é proibido pisar; em quais caminhos posso trilhar; quais caminhos são
proibidos; (caminho a ser trilhado: caminho de obediência e aceitação da
ditadura/caminho proibido: o caminho da revolta, da revelia, da busca pela
liberdade e pelos direitos) Luminosa: Representação
do que é divino, do que tem poder, do que vem do céu, do que tem luz, do que é
brilhante, genial (como se veem os próprios generais da ditadura).
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Uma
grande escultura representando a figura de um anjo: (anjo que perdeu a
juventude e a beleza, atribui seu idealismo? Suas asas são incapazes de
levantar e trazer para o céu, o anjo caído já está invadido pela banalidade, a
feiura, a mediocridade.) — O bem corrompido pelo mal (anjo decaído —
representação do demônio).
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Cenário
(dois planos): Interior da capela/Uma cerca a alguns metros de distância do
muro que nunca é visto.
— Interior
da capela: Lugar permitido de se estar, representa o lugar que exerce certo
domínio sobre as irmãs.
— Uma cerca: Limite de onde se pode ir.
Representa o proibido ultrapassar.
— Muro: Lugar proibido de se chegar
perto, por isso nunca se vê; pois apenas pode ser imaginado pelos anseios de
cada irmã, dentro delas tudo é hermético, o âmago de cada uma é o único local
livre da intromissão da madre superiora. O muro é um elemento que representa a
repressão, pois é ele que extirpa a visão das irmãs em relação à imagem do
mundo externo. Ele priva cada uma de enxergar o mundo lá fora; assim, fazendo
delas uma espécie de indivíduo alienado! Porém, ele pode representar também a
figura da verdadeira libertação, pois a existência dele é a prova de que existe
uma vida lá fora, livre de restrições; uma vida que dá, a cada um, o direito à
liberdade de “ir e vir “e a liberdade
de escolha (a liberdade física e a liberdade de ideias e pensamentos).
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Na
capela, alguns castiçais, um banco e uma pequena janela:
— Castiçais: A luz interna entre as
sombras (poder ver na escuridão).
— Banco: Apoio para o corpo
(traz repouso ao corpo exaurido de penitência e castigo).
— Pequena janela: Pequena
vista para o lado de fora da clausura (a luz externa que invade as sombras; o
ar que entra, e as mantém vivas na esperança).
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Freiras
em círculos, ajoelhadas; chicote de três cordas ao lado de cada uma:
— Freiras
em círculos: Domínio de outrem sobre suas ações; extirpação da liberdade de
se expressar; obrigação de estar em posição formal segundo às normas e
preceitos de uma hierarquia.
— Ajoelhadas:
Posição de submissão e inferioridade. Postura de quem quer ser perdoado por
algo de errado que fez; alguém que implora, suplica por misericórdia; indigno.
— Chicote de
três cordas ao lado de cada uma: Representação de penitência, castigo,
punição, flagelo, tortura, para a remição dos pecados; para ser digno da
misericórdia divina.
·
Superiora
de pé, afastada das outras:
— Superiora: Representação
de superioridade, de altivez (digno ≠ e/ou = soberbo); quem dita as normas
e supervisiona as demais, em nome de algo ainda mais superior; ocupa um cargo
privilegiado perante as outras; manda e desmanda; é a representação do domínio
de um regime totalitário, figura autoritária de uma regência ditatorial. A
imagem e semelhança dos generais que assombraram o país no período da ditadura
militar.
— De pé: Posto acima de quem se obrigou
a ajoelhar, valor moral acima de qualquer suspeita, posto hierárquico acima dos
subordinados.
— Afastada das outras: A distância que
se mantém do pecado; a necessidade que há em não se misturar o casto com o
impuro. Manter a distância dos subordinados para que fique bem claro o seu
posto diante da posição inferior que as outras ocupam em tal hierarquia. Evitar
a aproximação de modo que não haja intimidade; é desta forma que a mesma
preserva seu direito de exercer tal domínio sobre as outras por meio da
intimidação. (Não há aí uma relação de respeito, mas de medo).
Nuno Lilah Lisboa.
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