Caderno de Direção #12
A
imagem quando se desgruda do fundo fica assim: igual à bituca de cigarro. Não é
mais cigarro. É bituca. É lixo. E lixo são pedaços de coisas ou coisas em
pedaços.
Não é comum
ver um papai Noel jogado por onde corre esgoto, rato e toda sorte de porcaria.
Confesso que, quando olhei, achei engraçado, diabolicamente engraçado:
- Eu sempre me
perguntei: o que fazia o papai Noel no período do São João?...
Todavia, como
o Diabo é também um amante da filosofia (Fausto é testemunha), logo tirei o
riso do canto da boca para analisar mais, digamos, dialeticamente:
- Aquilo era
um símbolo jogado fora sem mais nem menos. Ali não tinha nenhuma mensagem de Natal,
embora estejamos em pleno São João, o que, sem dúvida, já é o suficiente para
pararmos por aqui, mas não! Espere... Aqui existe um paralelo entre o Alzheimer
(o tema da nossa pecinha, lembrou?) e o nosso mundo moderno:
-Se, na caduquice,
a memória se apaga gradualmente, na contemporaneidade, os nossos símbolos estão
também se esfumaçando. O resultado em comum: cada instante é um instante novo,
separado do que veio antes e do que virá depois.
Cada símbolo tem
a essência de uma cultura e, se toda a simbologia de um povo se concentra em um
jogador de futebol ou naquele pop star
de calças cerradas, não é pelo fato deste povo não ter essência. Longe disso.
Ele tem essência, o problema é que ela evapora muito rápido. Tão rápido, que
parece que não há essência alguma ali, assim como não há memória alguma em um
portador em estágio terminal do Mal de Alzheimer.
O tempo não
perdoa. O tempo sem amarras na memória, menos ainda.
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