Literatura de Processo # 3 (A Vida por um fio)
DONA RITA – Quando tinha quinze anos engravidei. Fui ser
mãe, ainda menina. Sendo mãe, me obrigaram a ser mulher. Meu pai me mandou sair
de casa. Juntei-me com o homem que me
embuchou. Veio o segundo filho, o terceiro, o quarto, o quinto, a televisão, o sexto
e aí acabou... Sabe? Não tive tempo para ser mulher mesmo, daquelas que se
pintam. Nunca tive cabeça para maquiagem, embora achasse muito bonito. Sempre
tive essa mesma cara. Nada ia mudar. Não sou como as mulheres da televisão.
Ninguém nunca me deu um real para ser bonita e, se me desse, era para fazer
outra coisa, uma coisa bem feia, que não tinha nada a ver com maquiagem e mais a ver com rodar entre os caminhões. Na
novela tudo é tão lindo. Fico olhando esses casais novinhos que passam aqui
pela porta. Penso, comigo, amor é coisa
de TV. Ver é bom, viver é difícil. Por isso que não gosto de final de novela.
Tudo é assim: fácil. Eu fico indignada. Se a vida fosse assim: simples como
apertar um botão. A realidade é outra. É o nosso canal. Chuviscado, barulhento,
chiando. Para ficar bom, só mexendo muito a antena, batendo na bandida, levando
choque e, às vezes, quando a imagem está bem clara, você percebe que aquele não
é o canal certo e só não muda por vai dar muito trabalho sintonizar tudo de
novo. Por isso, se a TV está na sala, o melhor é ver a vida dos outros, não é?
Se, pelo menos tivessem um final decente... Quer dizer, todos os finais de
novela são decentes. O da gente é que não é! Pobre Rosa da novela das nove. Depois que o filho
morreu foi perdendo a vontade de viver. Era o único. Ser mãe tem dessas coisas.
A gente vive pelos filhos. Se um se vai, não resta nada. Eu já perdi um também, sei como é que é. Mas ela, quando chora, é mais bonita. Essa atriz que faz ela é ótima.
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