quinta-feira, 28 de março de 2013

TEATRO E FILOSOFIA POR SOBRE O TABLADO

           O Teatro nasce na Grécia assim como a Filosofia. Deste ponto as relações existentes entre estas duas formas de expressão da alma tornam-se cúmplices ao estarem em uma busca constante da explicação do ser [ inteligível/imutável], onde  o teatro, que se utiliza de técnicas do elemento estético para representar espiritualmente a condição humana, encontra junto à Filosofia uma manifestação original da dimensão artística e da reflexão conceitual. 
             Para Aristóteles, a idealização é o modo próprio da tragédia, onde aparece o herói fora do cotidiano do espectador, o que nos faz lembrar Brecht, quando em seu teatro estabelece um distanciamento, uma quarta parede, entre ator, personagem e público, este último não se envolve no enredo da dramaturgia, estabelecendo assim uma atmosfera de valores que não se apagam quando se fecham as cortinas. Mesmo nascendo durante festas a Dionísio o Teatro começou a questionar o esforço humano para obter a ajuda dos deuses, assim a critica social cresce juntamente ao avanço cultural grego, a personificação dos elementos da natureza dentro dos ritos de fertilidades já não mais são suficientes para se entender o mundo da forma que é apresentada a este homem inquieto. Agora o antigo “xamã” que se portava da voz dos deuses, e que assumia o movimento dançante para se chegar ao êxtase do sagrado dá lugar a Téspis, o primeiro ator que se tem notícia que empresta seu corpo e sua voz, para então assim representar a obra do poeta e distinguir o deus-ator, para o ator-personagem.
               Para este primeiro momento da pesquisa nos prenderá na figura do ator; a distinção entre o ator que assume a voz dos deuses e aquele que apenas a representa, Assim, compreendemos que o teatro é dotado de ação, e o ator constitui-se enquanto elemento principal da ação; se retiramos o texto, o espaço da representação e toda maquinaria que compõe o teatro ele ainda existirá, no entanto se retiramos o ator do teatro este último não mais fará sentido , visto que o teatro é arte do ator, pois foi Téspis que ao subir na carroça e distanciar-se do coro começou-se então a aparecer uma reflexão interior do filósofo, com debate de ideias no movimento filosófico e com o processo de artes em detrimento das críticas da sociedade grega, com busca de sentido e valores da existência.
              Para Nietzsche em O nascimento da tragédia. “O grego conheceu e sentiu os temores e os horrores do existir este sentimento refletiu-se em sua arte dramática, onde se destaca Sófocles que apresenta o homem enquanto detentor da consciência destes próprios horrores em um sofrimento sem saída, aqui percebemos que para Sófocles voltar-se contra os deuses, não significa um moira [ destino] de castigos supremos , mas sim um estagio de transformação e independência da condição humana , Édipo não deixa de enxergar e por ter furado os olhos, deixa apenas de ver as coisas matérias, passa a enxergar ainda melhor suas razoes existentes. É neste momento que o ator deixa de ser o canal de transposição da vontade dos deuses e constitui-se enquanto um representador.

Referências
ARISTOTELES. A poética. São Paulo. Martin Claret. 2010
BERTHOL, Margot. Historia Mundial do Teatro. São Paulo. Perspectiva. 2004
NIETZSCHE, Friedrich. O nascimento da tragédia ou helenismo e pessimismo. São Paulo. Cia das Letras. 2007

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