terça-feira, 22 de janeiro de 2013

A Ideia de Pós-Modernidade e a Indiferença de um Deus


O ruim de assistir uma peça com moldes pós-modernos é que nós não sabemos muito bem por onde julgá-la. É preciso ter cuidado, para não ser acusado de leigo. Trata-se de uma massa sem forma, que não tem começo e nem fim, uma orgia iniciada onde você não sabe muito bem onde se meter, mas acaba se metendo.
         No meio de toda essa confusão, penso: hoje em dia, algo que seria extremamente pós-moderno, no sentido da novidade, seria a montagem de um clássico, da maneira clássica, obviamente, uma movimentação bem marcada no palco, com direito atextocentrismo declarado - embora ele ainda exista nas ditas montagens pós-dramáticas, o que muda é que, antes, o olho se direcionava àquilo que o autor escreveu e, agora, as atenções migraram para aquilo que o teórico escreveu.
       Modernidade, no geral (englobando neste termo o moderno, pós-moderno e contemporâneo), nada mais é do que o desespero de um tempo que não quer ir embora de jeito algum. Ele quer dizer logo o que é, mesmo que seja prematuramente.  Se firmar logo nos espaço embora não haja amarras, se materializar de vez mesmo não sendo concreto... A única coisa que firma este anseio é o discurso, e nada mais volátil e indefinido do que isso. Tudo vem de uma necessidade de se eternizar logo de uma vez por todas e, com o tempo tão curto, só podemos dizer, afirmar repetidamente, até que o fastio dos ouvidos acabe por ceder e aceitar o boato como verdade. 
          Clamar-se! Aparecer! Ser reconhecido! Ir ao paraíso! A ideia de toda esta modernidade tem um contraponto: miramos na eternidade, no futuro, e esquecemos o imediato, o presente, o aqui agora, em suma, o presente... Há um deslocamento de interesses que faz o subjetivo ser objetivo, não havendo mais ação direta, explico-me:
         
O cidadão vai todo dia à igreja. Comporta-se como um religioso mesmo que seja no lato-senso. O que ele mira é uma eternidade, um lugar galgado no céu, uma absolvição dos pecados, um status superior no sentido físico e psicológico diante dos demais, daqueles que não temem. Se todo esse fervor dos cultos e missas fosse utilizado para resolver o problema do crack, o problema da educação, da fome, da desigualdade, o mundo seria mais justo e, portanto, mais cristão. Mas o objetivo do cidadão, a priori, nada mais é do que a eternidade, mesmo que seja prematura. Ele faz o seu papel. Ele cumpre sua obrigação. Ele salva a sua alma. Ele se volta para um objetivo supremo, maior, intangível, negligenciando o concreto, o palpável, o que está bem de baixo do seu nariz. É triste pensar que toda obra de deus sirva para nos conduzir rumo à indiferença para com próximo. São Luís é uma prova de que existem tantas pessoas que vão ao céu de mala e cuia e, ao mesmo tempo, tantos que vivem, verdadeiramente, no inferno. Como isso pode existir sem ser chamado de absurdo? As pessoas pensam nisso? Claro que não, seu foco está lá em cima. Elas andam olhando para céu, esbarrando nos problemas, pisando em buracos, achando que tudo será, um dia, recompensado... E se o paraíso fosse uma mentira? Se não houvesse nenhuma recompensa? E se, voltando ao assunto inicial, para o artista da modernidade e para o temente a deus, não houvesse reconhecimento?
            O mundo entraria em colapso, pois a modernidade é feita, antes de tudo, de um discurso. A ideia de que aquilo que fazemos não será ouvido por orelhas de luz ou de fibra-óptica, traria o caos, deixaria o homem desnorteado ou, se pensarmos positivamente, faria com que o homem fizesse o bem simplesmente pelo bem, independente da sua vaga no Éden, que o artista faça algo para tocar o espectador e fazê-lo sentir alguma coisa, sem estar mudando as concepções de arte não importa como, ou seja, fazendo, no presente, o que já se consuma como História da Arte... É certo que o não-reconhecimento traria o êxodo, tanto da casa de deus, quanto da casa de espetáculos. Mais seria uma diminuição justa, haja vista o exorbitante número de crentes superficiais e de artistas vazios. O que sobraria deste dilúvio seria unicamente a fé verdadeira, tanto na obra de arte, tanto na obra de deus.

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