terça-feira, 22 de janeiro de 2013

É PRECISO MENTIR PARA FALAR A VERDADE


Caderno de Direção #6

Apresentação nesta última quinta-feira. Ainda por conta nossa. O pagamento foi o frete que ficou como contrapartida e R$ 9,00 que resultaram de uma passagem de chapéu... Mas não reclamo. Digamos que tudo isso foi justo, pois se o dinheiro valesse o leite, derretia-se as moedas e as tomava no café da manhã. Ganhamos a nosso modo, sem odinheiro da cachaça decorrente do dinheiro para passagem que se transmuta no dinheiro para o leite das crianças, tivemos nossos lucros pois chegamos a determinadas conclusões que passam longe de desistirmos logo por aí. Se somos inteligentes é por que somos mulas, ou seja, teimosos, não obedientes a lógica clara de comando que reza "todo esse trabalho não valerá a pena/teatro não dá futuro/teatro só da passado/era para você ter feito medicina". O trabalho da Petite Mort consiste na lógica da piranha, quanto mais apanhamos mais bonito saberemos gemer... Mas chega de discurso e vamos aos fatos! 
1. O espetáculo de 50 minutos teve 1h e 30 de duração. O resultado: o público que desertou aos poucos. O problema foram os inúmeros improvisos que jogamos e que não reforçaram a trama, pelo contrário, levaram os signos do texto para outro canto.
2. A improvisação parte da necessidade. Sem faca e com fome, descascamos a fruta com as unhas e com dentes, improvisamos. Todos os cacos, todas as ações que fogem do texto tem como único objetivo trazer as pessoas para trama, funcionando como uma espécie de “ponte metafórica”, ou seja, um gancho fora da peça que tem o mesmo significado, que causa a mesma sensação contida no texto ou no roteiro. Isso pode produzir identificação tanto para o ator como para o espectador, podendo fazer as pazes entre uma proposta de cena complicada e um público arredio... O problema é quando esses improvisos não convergem para cena...
3. O foco do trabalho do ator e dos que trabalham em função dele é justamente transmitir um código, uma sensação, uma ideia. Mas isso não se faz diretamente. É preciso processar os signos na caixa cênica, alcançar a beleza, provocar inquietações, sair do trivial, enfim, como diria Ulysses Cruz, parafraseio: no teatro é preciso mentir para falar verdade. É por isso que o espetáculo dá tantas voltas. É por isso também que experimentamos. A prática nos leva a conclusões mais condizentes com a realidade e nos impulsiona a estudar a teoria...

 No meio disso, e o público? Nem sempre daremos o espetáculo que ele quer. Da mesma forma, nem sempre ele vai pagar o quanto precisamos. É justo, às vezes, “castigá-lo” com um espetáculo ainda em construção enquanto não temos galpões equipados para ensaio ou subvenções para trabalharmos em tempo integral...
Se o espectador sair reclamando, nós sairemos pensando em como fazê-lo torcer a boca. Não se pode privar a platéia do processo até que se encontre um múltiplo comum entre os dois lados da ribalta... tudo isto nada mais é do que uma relação de sincronia que une dois pólos negativos para fazer um produto positivo. 

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