terça-feira, 22 de janeiro de 2013

O SALDO DO DEDO QUE CIRCULA



 Caderno de Direção #8


Estamos perto do fim do ano e fechamos esta temporada de Um dedo por um Dente com 14 apresentações por nossa conta, 2 pagas pelo Sesc e um total de R$ 89 resultante das passagens de chapéu no final do espetáculo... Operando a mesa de luz tirei algumas conclusões. Aí seguem:

Conclusão nº 1

São muitas as pessoas que fazem teatro no Maranhão, mas são poucas as que o discutem.  O que ainda me choca são alguns grupos que viajam, tem a chance de fazê-lo, mas voltam sem dizer nada, sem publicar os resultados, compartilhar o processo, as dificuldades. Nesse ponto admiro a Pequena Cia de Teatro. Eles viajam pelo Brasil, publicam como foi o espetáculo, a recepção, o que se pode fazer para melhorar, como eles chegaram a tal produto etc. Se vão para um estado não dizem “olha a Pequena no Pará!” ou “Tal lugar é maravilhoso”. O que adianta saber de tal companhia foi para tal região se eu não posso ir lá assisti-la? O que vale é o relato daquela experiência compartilhado, dialogado e trabalhado. O facebook e os blogs são ferramentas fundamentais para isso, embora, em tais redes, me pareça que um “curtir” valha mais do que mil palavras. Mas postemos! Um dia se cansam e lêem, um dia lêem e comentam!  

Conclusão nº 2

São Luís tem dois tipos de público que, no final das contas, dão no mesmo. O dito “povão” que não perde tempo com teatro, pois o pagode está fervendo e cerveja congelando. E o outro: os ditos “intelectuais”. São cultos, é claro. Falam bem do que bom e mal do que é ruim. Isolam-se em suas rodas de conversa na paisagem de um bar, fazem textos para eles mesmos, publicam livros para os seus e cultivam o que chamo de “público familiar”, ali poucos entram, dali, dificilmente algo sai. Para mim, ser intelectual é uma ofensa. Na era em que precisamos de homens de ação, o intelectual é a figura mais inútil no meio desta briga.  Sou pensador. Meu trabalho é pensar para achar soluções e não procurar soluções para pensar.  O que precisamos é de inteligência, não de intelectualismo.

Conclusão nº 3
A amizade é como ferro. Se nada acontece entre as pessoas, se elas não passam poucas e boas juntos, esta matéria não sofre reações e não se solda. Eis a diferença entre amizade e a convivência. A última enferruja, a primeira se funde, se interliga, justamente para evitar este salitro que é a superficialidade das relações. Com Nuno e Luís passei maus e bons bocados. Fomos da frustração à glória. Provamos da decepção e da apoteose. Apreendemos juntos. Progredimos. Investimos...

Um dedo por um dente foi uma escola. Personagens que não existem no mundo real. Cenário com luz de jardim que leva 5 horas para montar e que levou três meses para ser feito. Pagamos para fazer teatro, isto é um fato. Mas neste ponto acho importante fazer uma ressalva:

O cara quer fazer um curso (superior ou técnico) ele o paga, mesmo se não pagar, deve freqüentar todas as aulas para obter o certificado. Por que o teatro não obedeceria à mesma lógica? É preciso melhorar o trabalho, apreender com os erros, fortificar o jogo, ser criativo, escrever, reescrever, botar em cena, tirar de cena, concertar, fazer uma extensão, gastar tempo, trabalhar como uma besta e estudar como um típico concurseiro... Em minha opinião tudo deveria ser tratado da mesma maneira: o estudante de engenharia que negligencia os estudos e não se aplica pode derrubar um prédio por um simples erro. A companhia que não trabalha com afinco e aprimora o seu trabalho (independente dos recursos) pode chafurdar a magia do palco e destruir a possibilidade de construir um sonho.

Conclusão nº 4

Se todo este trabalho nos custou caro é por que, com certeza, não sairá barato.



Foto: Um dedo por um dente - Última apresentação de 2012
19h amanha (quarta-feira)!!
Hall do CCh/UFMA

Fotografia: Taciano Brito

Conclusão nº 5

Em função dos inúmeros testes que fizemos, de abrir a peça para o improviso, pervertendo o seu significando, fechando a peça novamente, abrindo-a para a intensificação de ritmo e energia de cena, de nos apresentar para diferentes públicos (crianças - diabólicas por serem anjos; anjos por serem diabólicas - moradores de periferia, estudantes da universidade, intelectuais, pensadores, um fotógrafo) tivemos a chance de aplicar vários métodos e ver o que funciona e não funciona.

Conclusão nº 6

Os sentimentos mudam a decorrer de cada experiência. Antes de apresentar ficava tenso e ansioso, agora fico nervosamente tranquilo. Quando o espetáculo não dava público ficava decepcionado, agora fico apenas triste, uma tristeza que é mais fruto de uma constatação (conclusão nº 2) do que de uma expectativa posta em xeque (mate).

Conclusão nº 7

Após este longo artigo, espero que nos acompanhem na nova empreitada da Petite Mort: DONA DERRISÃO. Uma peça que tem como tema o Alzheimer, completando o ciclo do projeto “Diálogos com o Absurdo”, que começa com Um Dedo por um dente, passa porDona Derrisão e desemboca em Esperando Godot. 

2 comentários:

  1. Querido diretor, suas considerações me provocaram perfeitamente e vejo em você um saldo superpositivo de um artista renovado e amadurecido. Vamos seguindo e investindo no que nos realiza.

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